Por Praia Rica
A palavra “bruto” vem do latim e significa “tolo” ou “estúpido”. Se consultarmos o dicionário, ela possui outros significados, mas será que eles realmente descrevem o Jalapão? Vamos aos detalhes.
1. Intocado?
Antes mesmo do turismo chegar, povos indígenas como os Xerente já habitavam a região. Mais tarde, comunidades quilombolas passaram a povoá-la. Havia vida, fauna, flora, interação entre pessoas e o ambiente. Também vieram os bandeirantes, garimpeiros e vaqueiros. Dizer que a região é intocada não só é um erro, como desconsidera todos aqueles que ajudaram a construir a história do Jalapão, incluindo a evolução do singular artesanato em capim dourado — e nem estamos falando dos grupos pré-históricos, com suas inscrições rupestres na região.
2. Grosseiro, mal acabado?
Não há nada mais perfeito do que a dinâmica da natureza. Tudo é minuciosamente orquestrado para funcionar. Como então, um lugar como o Jalapão, que segue essa lógica natural tão precisa, poderia ser descrito como “grosseiro” ou “mal acabado”? Se a ótica é sobre a infraestrutura, vale considerar que o estado do Tocantins nasceu com o Constituição de 1988 e que o turismo no Jalapão tem pouco mais de 20 anos. Não há como comparar a região a outros destinos consoliados. Além disso, a característica proposta no Jalapão é a de turismo overland, ou seja, de viagem por terra, na qual o destino não importa sozinho, mas o percurso faz parte da experiência e da conexão com o lugar.
3. Selvagem?
Se considerarmos a origem da palavra “selvagem” no latim, que quer dizer “da floresta”, a descrição se aplica. No entanto, se levarmos em conta o uso pejorativo, que sugere algo “irracional”, a palavra não faz sentido. O Jalapão, sob essa ótica, está longe de ser algo que não pode ser compreendido ou apreciado. E também não foi “domesticado”, como se supõe em algumas interpretações modernas.
Uma máxima repetida muitas vezes pode facilmente se tornar “verdade”. Mas às vezes vale a pena refletir até que ponto reproduzimos estigmas sobre lugares e experiências.
A verdade é que o Jalapão é para uns e não é para outros. Está tudo certo. Assim como o Amazonas, Mendonza, Serra da Capivara, Tóquio e Paris. Reduzir o Jalapão à condição de “bruto” é simplificar uma experiência que, em sua forma convencional, pouco exige fisicamente e ainda oferece diversas conveniências.
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